Felizes são as crianças, 
que se contentam com televisão, 
cheias da ingenuidade que eu perdi.
Minha mãe sempre me alertou, "crescer não é bom". Agora, o que é de mais faço de menos, o que não devo faço demais. Tudo é incômodo. A comida que tem muito sal, a brisa que assovia muito alto, minhas mãos que tremem como o celular infeliz que vibra. Cresci, e os meus cabelos há tempo não têm aquele cheiro de shampoo de fruta... as palavras que saem da minha boca perderam toda a suavidade, são sujas e merecem dividir meus lábios com o vômito de fim de noite, com o amarelo dos dentes e com a fumaça. Antes não. Antes eu era flor. 
Cresci, amadureci, apodreci.

Deus me encontrou na rua

e disse:
- Cadê aquela menina gentil que orava até quando via um arco-íris?
- Sumiu junto com os arco-íris que via...
- Não tem graça pintá-los quando ninguém mais olha pro céu.
Retrucou.
(...)

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou.
E hoje é já outro dia.


Fernando Pessoa